quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O choro do palhaço...

O palhaço seguia tristemente de volta para casa depois de um exaustivo dia de trabalho. Caminhava cabisbaixo e pensativo pelas ruas da cidade. Levava consigo um fardo que lhe pesava o coração.
Sentou-se frente ao lago, baixo a sombra de uma frondosa árvore, e pôs-se a pensar no rumo que sua vida havia tomado. Não aguentando mais segurar as mágoas deixou que as lágrimas rolassem com liberdade.
- Pensei que palhaço fosse sinônimo de alegria e não de tristeza. - Uma voz suave chamou sua atenção. Olhou rapidamente para o lado e deparou-se com a mais bela das figuras. Estava tão envolto a tristeza que não percebeu quando se aproximara e sentara-se a seu lado. A jovem tinha a pele morena, lábios rosados e os olhos cor de mel. Dos cabelos presos caiam mechas douradas sob seu rosto; estava muito suja e maltrapilha...
- Por que um palhaço chora? - Ela perguntou trazendo-o de volta a si.
- Porquê por baixo da máscara de sorriso largo existe um ser humano repleto de fraquezas e fracassos.
- Fracassos? 
- Eu era uma pessoa de muitos talentos, muitos me invejavam e diziam que gostariam de ser como eu, mas eu sempre me senti incapaz de seguir adiante por medo. Acho que como na parábola acabei enterrando meus talentos ao invés de fazê-los aumentarem. Então me tornei um palhaço, de profissão e na vida. Meu sustento depende da caridade de motoristas estressados que vez ou outra me jogam uma moeda. Eu sonhei demais e nunca tive coragem de lutar pelos meus sonhos, e aqueles que diziam sentir inveja dos meus talentos hoje são pessoas bem-sucedidas porque fizeram e não apenas sonharam...
- E o que te impede hoje de lutar pela realização dos teus sonhos?
- Já passou muito tempo, agora é tarde.
A moça riu alto e descontroladamente chamando a atenção dos que passavam por ali.
- O que foi? Por que está rindo? - O palhaço perguntou assustado com tal reação.
- Você é muito engraçado...
- É claro. Sou um palhaço. - Disse irritado. - Mas fico contente que possa divertir-te.
Ela continuou rindo sem se importar com o semblante decepcionado do rapaz. E riu até que passasse a vontade.
- Não, não está tarde. – Continuou o assunto. - Somente será tarde quando já não puder respirar e nem admirar as belezas que o rodeia. Será que não é capaz de ver?
- Ver o quê?
- O mundo é composto por dois tipos de energia: a energia positiva e a negativa. A energia positiva é Deus e a negativa o seu contrário, e toda vez que diz para si mesmo que não dá mais tempo, que é tarde, esse lado negativo ri e ri muito de você. Acredite em mim não esta tarde, nem para você e nem para ninguém que esteja vivo.
- E o que acha que devo fazer?
- Primeiramente parar de se lamentar pelo tempo perdido. Não importa o tempo que deixou passar por covardia, mas sim o tempo que ainda lhe resta para lutar. Conecte-se com a energia positiva de Deus e a deixe fluir por todo o seu ser. Viva o hoje, o agora; tendo o passado como um aprendizado e o futuro como algo que está longe, mas que um dia será o seu presente.
A moça maltrapilha, certamente moradora de rua pousou a mão levemente sobre a mão do palhaço. Ele sentiu uma sensação de alívio percorrer todo seu corpo, sentiu-se relaxado e otimista. A garota tinha razão. Não era hora de se lamentar pelo tempo perdido e sim aproveitar o que ainda lhe restava para lutar...
- Confie em si mesmo. - Ela sussurrou. - Deus nunca duvidou de você. Foi você que se desconectou dele quando duvidou de si mesmo e das capacidades que ele te concedeu...
Naquele instante o palhaço fora invadido por milhares de ideias e automaticamente pôs-se a planejar para colocá-las em ação. Estava empolgado, não havia tempo a perder...
- Calma. – Pediu ela com a mão ainda sobre a sua, parecendo ler seus pensamentos e a confusão instalada neles. – Antes de sair fazendo é preciso relaxar e saber bem o que quer, não adianta sair em disparada não sabendo ao certo aonde quer chegar.
- Tem razão. – Ele disse levantando bruscamente. – Mas também não posso ficar parado.
E sentindo-se imensamente feliz abaixou-se e beijou na face à moça desconhecida que lhe abrira os olhos para a vida.
- Obrigado! – Disse agradecido.
Ela sorriu docemente. E ele saiu correndo com pressa para recomeçar.
Já havia corrido uns dez metros quando se tocou. A garota era maltrapilha, moradora de rua, certamente estava com fome. Ela sentara-se a seu lado e o ajudara sabiamente, o mínimo que deveria fazer era convidá-la para o jantar e depois ajudá-la a encontrar um abrigo, um lugar para morar...
Virou-se direcionando o olhar para o lugar onde antes esteve sentado com a garota, mas ela também já não estava mais lá. Olhou por todos os arredores para encontrá-la e não a viu em lugar nenhum. Ela simplesmente desaparecera sem deixar nenhum vestígio.
O palhaço ficou triste! Não deveria ter saído daquela forma.
Uma rajada de vento soprou mais forte fazendo com que flores pequeninas despegassem das árvores e viesse o tocar. Ele sentiu uma onda de energia penetrar-lhe e percorrer todo seu corpo dando-lhe a sensação de alívio e relaxamento, da mesma forma que sentira quando a moça tocou sua mão. Então ele entendeu. Aquela não era uma garota qualquer...
Sorriu feliz! E pôs-se novamente a caminhar.
Aquele era o primeiro dia do restante de sua vida...

“Não importa por quanto tempo tenha seguido na direção errada, sempre haverá um trevo que lhe permitirá optar pelo caminho certo”!

Simone de Aguiar.-

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